A direção do SINTUFSC é contrária à decisão da reitoria e do Conselho Universitário de retomada das aulas via ensino remoto. Em consonância com os presentes em reunião da base, no dia 03 de julho, entendemos que essa decisão tem implicações sérias para a universidade e para sociedade catarinense.
Consideramos que criar um “novo normal” é abdicar de uma universidade envolvida intimamente com a crise humanitária que vivemos no Brasil, frente a pandemia de COVID-19. Não há normalidade possível diante da morte de milhares de brasileiros. A tentativa de estabelecer alguma normalidade responde a interesses extra-universitários: a ligação entre o novo normal e o velho é a necessidade do empresariado de que retornem as aulas nas escolas básicas e infantis para que os trabalhadores estejam disponíveis para retomada da roda da exploração, assomado a interesses políticos ligados às eleições municipais por todo o estado e aos interesses de grupos empresariais que, aproveitando-se do momento de pandemia, estão buscando aprofundar o projeto de privatização da educação e de implementação de plataformas digitais que possuem estrito interesse mercadológico.
Vemos o retorno às aulas de forma remota ser imposto de maneira pouco democrática em diversas universidades, colocando em segundo plano a preservação das condições de trabalho, a qualidade do processo pedagógico e a vida da comunidade universitária em nome de atender às pressões do empresariado e da mídia hegemônica. Consideramos que a universidade tem que se debruçar sobre a crise que vivemos. Não é hora de continuar burocraticamente como se nada ocorresse. Nossas energias devem estar voltadas para discutir os problemas que essa crise tem gerado, procurando estratégias e soluções possíveis, a partir de todas as áreas do conhecimento.
Além disso, retornar as aulas nessas condições significa prejudicar a formação dos estudantes: pela precariedade que o ensino remoto implicará, muito mais limitado que a importante dinâmica de sala de aula, bem como as desigualdades que se aprofundarão entre os estudantes. Vale apontar que esse retorno foi decidido a partir de um diagnóstico que ignorou que 37% dos estudantes não responderam aos questionamentos e, portanto, permanecem na invisibilidade, sem que se saiba quem são ou quais dificuldades enfrentam.
É importante lembrar que esta forma de ensino produzirá também desigualdades entre áreas e cursos, pois alguns deles não terão condições de aderir a esse formato por suas características específicas e por possuírem disciplinas em que a prática é imprescindível. Nos cabe questionar qual será o suporte dado a esses cursos, diante da demanda de maior número de servidores docentes e técnicos administrativos, assim como a necessidade de mais laboratórios e salas de aula.
Estamos diante de um cenário de ampliação de incertezas e precarizações das relações de trabalho e de fragilidade das demais dimensões da vida. A condição economia, política, afetiva e emocional que estamos atravessando impõe a necessidade de reconhecimento da impossibilidade, via de regra, de haver o envolvimento continuo e obrigatório do conjunto dos estudantes nas atividades de ensino.
Sendo assim, estaremos na luta contra o ensino remoto, para não deixar a universidade para trás, bem como nenhum trabalhador ou estudante. Nos próximos dias convocaremos uma assembleia para debatermos, junto a um maior número de trabalhadores, as possíveis consequências que a adesão ao ensino remoto trará a toda a comunidade universitária e nossas estratégias coletivas para se contrapor aos ataques que a educação pública vem sofrendo
Juntos, os trabalhadores da área da educação, se organizarão para as lutas que estão por vir e estarão prontos para combater a exclusão e os interesses mercadológicos que teimam em interferir em nossas decisões, afrontando a autonomia universitária.
Ensino remoto não é solução! Lutar contra a pandemia, é!