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NA PANDEMIA, A UFSC OPTOU PELA DEFESA DA VIDA NO ENSINO INFANTIL, FUNDAMENTAL E MÉDIO

23/07/2021

NA PANDEMIA, A UFSC OPTOU PELA DEFESA DA VIDA NO ENSINO INFANTIL, FUNDAMENTAL E MÉDIO

Não é novidade a mídia comercial sistematicamente desferir ataques à universidade pública. O objetivo disso é desqualificar e desmerecer, fazendo com que a população acumule informação para, mais tarde, apoiar projetos de privatização. Isso tem sido uma regra também durante a pandemia.

Há pouco os alvos foram o Núcleo de Educação Infantil (NDI/UFSC) e o Colégio de Aplicação (CA/ UFSC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), cujos trabalhadores foram acusados de colocar impeditivos para a volta às aulas presenciais. Ao contrário do que dizem os ataques, o que tem barrado o ensino presencial é a orientação do grupo de cientistas da UFSC que acompanha a rota da Covid-19 no Brasil. Logo, não são os trabalhadores que se opõem, apenas seguem as regras determinadas. Além disso, a demanda de trabalho desses profissionais até aumentou com a prática do trabalho remoto. A opção da universidade pelo trabalho remoto não visa só proteger o trabalhador, ela tem no seu centro a defesa da vida de toda a comunidade escolar e é injustificado que as trabalhadoras e os trabalhadores tenham que enfrentar esses ataques infundados.

Juliane Mendes Rosa La Banca, pedagoga, mestre em educação e Diretora no NDI, aponta que com a suspensão das aulas presenciais o trabalho aumentou muito. “Foi preciso fazer uma revisão e digitalização de todos os documentos do NDI para acesso da comunidade escolar, além de ampliar o contato com a comunidade. Também foi preciso fazer formações com os trabalhadores para utilização do Sistema de Gestão Administrativa da UFSC (SPA), e assim dar continuidade ao nosso trabalho”. Juliane relata que para suprir essa demanda foram criadas cinco comissões de trabalho, reunindo docentes, representantes de famílias e técnicos.

Também foi criado um jornal semanal pela equipe do NDI para repassar informações para as famílias e funcionários sobre as atividades de ensino e os cuidados necessários durante o período da pandemia. “Todas as atividades estão documentadas e apresentadas para a comunidade externa. Isso é parte da gestão democrática que construímos junto com os trabalhadores, com o objetivo de ouvir os trabalhadores e trazer para o coletivo”, reitera a Diretora do NDI.

O Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI/UFSC) é um colégio de aplicação vinculado ao Centro de Ciências da Educação (CED), tendo em sua identidade o compromisso com o tripé ensino, pesquisa e extensão, que caracteriza a função universitária. O Núcleo atua no trabalho pedagógico com crianças de 0 a 6 anos, bem como na produção e socialização de conhecimento, na formação de professores e em projetos de inovação pedagógica. Em seus 40 anos de existência, o NDI participou do processo de reconhecimento da educação infantil como primeira etapa da educação básica e como direito de todas as crianças, conquistas das quais não se pode abrir mão mesmo no momento atual da pandemia de Covid-19, conforme aponta o Plano de Contingência do Núcleo de Desenvolvimento Infantil/UFSC para o retorno das atividades presenciais.

“QUEREMOS CONDIÇÕES OBJETIVAS PARA CONTINUAR O TRABALHO DE EXCELÊNCIA DESENVOLVIDO HÁ 40 ANOS. A GENTE TEM O PÚBLICO MAIS SENSÍVEL DA UFSC, QUE SÃO AS CRIANÇAS, POR ISSO TEMOS QUE TOMAR TODOS ESSES CUIDADOS”, reforça Juliane.

Kainara Ferreira de Souza é pedagoga em educação especial e atua na coordenação pedagógica do Núcleo de Educação Infantil da UFSC. Ela ressalta que o NDI/ UFSC é uma referência em educação infantil no Estado. Mas, ao mesmo tempo, enfrenta uma série de dificuldades que já existiam antes da pandemia, como cortes no investimento em educação, falta de funcionários e estrutura precária nos locais de trabalho. Agora, com a pandemia, novas dificuldades foram incorporadas aos velhos problemas.

“As dificuldades que temos agora no trabalho remoto são inúmeras. Temos colegas de trabalho com diagnósticos de estafa e que precisam ser afastados por motivo de saúde e precisamos criar um rodízio para que as atividades continuem acontecendo. Além de uma quantidade exacerbada de reuniões virtuais e relatorias”. Kainara evidencia também os problemas que envolvem a questão de gênero. “As trabalhadoras que são mães estão com seus filhos em casa (nesse momento da pandemia) e precisam fazer reuniões na hora do sono dos bebês ou na hora de amamentar, por exemplo, isso é desumano! Precisamos respeitar esses momentos”.

Outra dificuldade apontada por Graziela da Rosa Persich, que trabalha na secretaria do NDI, é que “durante o trabalho remoto não há a separação do trabalho versus o da casa, o que acaba sendo muito mais cansativo para dar conta de todas as demandas”.

Esses problemas, mais o esforço para manter a vida da comunidade escolar em segurança e ao mesmo tempo garantir a qualidade do ensino são partilhados também pelas trabalhadoras e trabalhadores do Colégio de Aplicação, que atuam no ensino fundamental e médio.

Yasmim Pereira Yonekura, Técnica-Administrativa em Educação no Colégio Aplicação relata que a sobrecarga de trabalho atinge todos os trabalhadores do CA/UFSC. “Além da sobrecarga estamos enfrentando uma cultura de violência que tem gerado um sofrimento mental para nós trabalhadores”, afirma. Ela se refere ao fato de que recentemente o CA/UFSC foi inquirido num processo do Ministério Público Federal sobre o retorno presencial.

Com a iminência de voltar ao trabalho presencial e a pressão de pais de alunos, vem à tona as preocupações em relação às medidas de segurança para esses trabalhadores e alunos. “É uma situação bem desesperadora e estamos nos sentindo abandonados. Eu tenho asma, tenho colegas de trabalho que são lactantes e já tivemos uma colega que veio a óbito por causa da Covid-19. Para evitar que haja mais mortes está sendo feito esse trabalho minucioso que é o Plano de Contingenciamento e deve ser acatado pela comunidade escolar. A gente tem feito mais do que possível, estamos pensando em voltar, mas com seguranças e medidas que garantam a vida dos alunos e trabalhadores”, reafirma.

Renato Ramos Milis, psicólogo escolar no Colégio Aplicação e diretor do SINTUFSC, conta que esse momento tem sido bem difícil porque a educação se faz presencialmente e os TAEs sentem as dificuldades com o remoto. Ainda assim eles têm se desdobrado durante a pandemia, enfrentando muitas perdas de amigos, familiares e colegas de trabalho. “A dinâmica de trabalho no CA/UFSC se faz com encontros, com atividades conjuntas. Nesse momento de pandemia, as reuniões online têm tomado muito tempo e esgotado os trabalhadores. Do ponto de vista subjetivo tem um momento que se perde, que é o momento após a reunião, quando nos encontrávamos nos corredores e conversávamos, agora isso não é possível. Mesmo antes da pandemia tem uma parte do nosso trabalho que não é visível, e agora fica ainda mais oculto”, reitera.

Em relação aos ataques e cobranças Renato avalia que existem dois movimentos distintos. Um, da extrema direita catarinense, que se aproveita desse momento em que ainda não se retomou o trabalho presencial para atacar a Universidade. O outro movimento parte de setores da sociedade que estão de fato pressionados pela vida, que têm sentido os impactos da pandemia no seu dia a dia. “A gente compreende essa situação. Queríamos ter voltado porque sabemos que no modelo virtual se perde muito em qualidade de ensino. Mas, sabemos que os cuidados e a defesa da vida são mais importantes nesse momento”, salienta.

O fato é que, se é preciso encontrar culpados pela situação que se vive atualmente, a responsabilidade recai totalmente sobre o Governo Federal. Sem qualquer comando central, os estados, as cidades e as instituições tiveram de agir por conta própria. E foi por isso que a UFSC buscou seus cientistas para constituir um plano de combate. Os trabalhadores acolheram esse plano e o seguem. Logo, não são eles os que irão colocar as suas vidas e a vida da comunidade escolar em risco.

Entre os trabalhadores há muita indignação, inclusive com a administração central da UFSC, que se coloca muito “moderada” diante dos ataques. “Esse momento exige uma defesa intransigente da universidade. A gente quer voltar sem que haja perigo para a vida dos alunos e da comunidade como um todo. Mesmo no trajeto até a escola há o risco da proliferação do vírus. Temos avançado com a vacinação, mas ainda não há um controle da pandemia. É um pressuposto ético dos trabalhadores da educação cuidar da vida. A gente quer voltar, mas não pode, e a culpa é desse governo genocida”, conclui.

O trabalho na UFSC nunca parou. As aulas seguem sendo dadas, o trabalho administrativo continua, os alunos são acompanhados, planejamentos são pensados. E tudo isso significou um reordenamento total do modo de trabalhar. Apesar de todos os desafios, se reinventam e seguem dando seu melhor.

Aos detratores da UFSC a mensagem é clara: o trabalho presencial e a volta às aulas vão acontecer quando houver segurança para todos. Antes disso, a regra é proteger a vida. Sempre foi assim e seguirá sendo. Os cães que ladrem. A caravana universitária segue seu caminho pelo deserto, buscando o oásis do conhecimento e da formação.

Reportagem: Rubens Lopes.

Ilustrações: Ariely Suptitz.

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