A tarde do quarto dia do XX Confasubra foi destinada a um dos temas que gerou mais polêmica entre os delegados do congresso: “Estrutura Sindical”. Desde o primeiro dia das discussões ficou claro que o assunto central deste congresso seria a desfiliação ou não, da Fasubra, da CUT. Para falar sobre esse tema estavam presentes Júlio Turra, representante da CUT nacional; Pascoal Carneiro, da CTB – Central dos Trabalhadores do Brasil; Dary Beck, da CUT; Carlos Spis, também da CUT, Jorge Martins, da Intersindical, Zé Maria, da Conlutas.
Júlio Turra foi o primeiro a falar. Disse que a CUT nasceu a partir da luta de classe e enfatizou que essa marca histórica não se perde da noite para o dia. Para ele, a CUT tem contradições como qualquer outra entidade, mas não é por causa disso que os trabalhadores devem abandoná-la. Ele defende que é necessário lutar para mudar a sua direção. Afirmou que a Fasubra é entidade fundadora da CUT e há 26 anos tem uma história em comum. Disse que é falso o que dizem, de que a CUT apoiou a reforma da previdência. Para Turra, a desfiliação da Fasubra da central significaria “dar as costas para uma conquista de toda a classe trabalhadora brasileira”.
“A CUT recebe dinheiro do PAC”
Pascoal Carneiro, da CTB, afirmou que os trabalhadores passam por um momento difícil, e que será necessária muita luta contra projetos que retiram direitos, e que estão em andamento. Disse que a CTB é criticada por defender o imposto sindical. Mas, segundo ele, “muitos que são contra o imposto sindical têm outras fontes de financiamento”. Depois, fez um questionamento: “A CUT recebe dinheiro do PAC. Isso não é mais escuso do que o imposto sindical?”.
Segundo ele, todas as entidades que participam de um congresso da CUT têm que pagar os 10% de imposto. Também falou que a CUT apoiou a reforma da previdência e que foi ela que disse que tempo de serviço e de contribuição eram a mesma coisa. Para Carneiro a CUT só faz negociação com o governo e os trabalhadores cada vez mais perdem seus direitos.
“A ruptura é uma necessidade”
Zé Maria, da Conlutas, disse que os trabalhadores estão vivendo um momento de reorganização. Que, segundo ele, é em busca da construção de uma sociedade socialista. A ruptura da Fasubra com a CUT, disse, é a “expressão de uma realidade objetiva”. De uma necessidade da classe trabalhadora. Ele acredita que é necessário reconstruir a unidade dos trabalhadores na luta, em defesa dos interesses históricos. Mas, para isso, é preciso construir uma alternativa.
Zé Maria disse que a CUT abandonou a luta e está atrelada ao governo. O que comprova isso é que a CUT têm cargos no governo, convênios com o Banco do Brasil, com a Caixa Econômica Federal e ainda elege ministros, como o do Trabalho. Também recebe dinheiro do PAC e administra os fundos de pensão.
Reafirmou que a CUT ajudou o governo a fazer a reforma da previdência, convencendo a sociedade. “Quem apresentou a reforma foi a CUT, o Governo Lula e a Força Sindical. Para Zé Maria a CUT deixou de defender os interesses da classe trabalhadora para defender os interesses do governo. Por isso defende que a Fasubra tem que romper com a CUT e abandonar esse barco. “E isso não significa dividir a classe trabalhadora”, conclui.
“Risco de cair em vácuo político”
Carlos Spis, também da CUT, disse que tem orgulho de a Fasubra ser filiada à Central Única dos Trabalhadores desde 1983. Afirmou que a entidade não é chapa branca, nem governista. Exaltou o papel da mesa permanente de negociação com o governo, proposta pela CUT.
Disse também que, quando a central não concorda com o governo, faz greve e questiona. Para ele a CUT é uma central “altamente democrática”. Spis concluiu sua fala dizendo que se a Fasubra romper com a CUT irá “cair em um vácuo político”.
“Verdadeiras gangues”
Jorge Martins, da Intersindical, afirmou que hoje a maioria dos sindicatos é burocratizada. “Verdadeiras gangues se apropriaram dos sindicatos para produzir riqueza”, destacou. Segundo ele, a CUT foi fundada para combater esse tipo de prática. Mas, de 1983 para cá, as coisas mudaram, e “muita água passou por baixo dessa ponte”. Para ele, não é uma surpresa que a CUT esteja com problemas.
Martins lembra que a partir de 1995 a CUT deixou de ser uma central de contestação e passou a ser de proposição. Reafirmou o que disse Zé Maria, lembrando que a CUT defendeu, durante a reforma da previdência, que tempo de serviço era a mesma coisa que tempo de contribuição. Recordou que, com essa “canetada”, FHC tirou milhões de trabalhadores do benefício da previdência.
O grande erro da central, segundo Martins, foi acreditar que, em 2003, com a eleição de Lula, os trabalhadores haviam chegado ao poder e não podiam mais criticar o governo. A partir daí, ele acredita que a CUT passou a fazer o jogo da direita. “Passou a ser uma central que só diz sim para o governo, uma central de beija mão do governo”. Afirmou também que a CUT virou as costas para os trabalhadores. “Chega uma hora que não dá mais para gastar vela com defunto ruim”, concluiu.
Defesa do Plano de Lutas do Sintufsc
Para debater este tema o sistema de inscrições proposto pela mesa, e acatado pela plenária, foi diferente. Mais uma vez muitas pessoas queriam falar e ficou acordado que primeiramente seriam escolhidas cinco pessoas que teriam prioridade para falar representando cada corrente. Depois dessa primeira rodada de intervenções, a mesa responderia e, logo em seguida, aconteceriam as demais intervenções.
Nessa discussão, quem cumpriu o papel de defender, pela delegação, a deliberação da base do Sintufsc, foram Celso Ramos Martins e Enaura Simas Graciosa. Celso fez uma intervenção forte e não deixou dúvida de que a base de Santa Catarina é a favor da desfiliação da Fasubra da CUT.
Ele defendeu que os trabalhadores devem lutar contra o governo Lula, ou qualquer outro governo que prejudique a classe trabalhadora. A intervenção de Celso arrancou aplausos de grande parte da plenária. Enaura Graciosa fez uma intervenção curta, mas direta: “Para mim CUT significa “Central Única de Trampolim para cargos políticos”.
Promessa de confusão
As discussões avançaram até a noite e dezenas de delegados se revezaram entre criticas e elogios à CUT. As pessoas que falavam ouviam aplausos e vaias do lado dos que defendem e dos que condenam a central.
Com bandeiras sendo levantadas e abanadas, e muita provocação, muitas vezes foi necessária a interferência da mesa para que os trabalhos pudessem seguir. O clima da plenária era de batalha. A decisão da desfiliação ou não, da Fasubra, da CUT, que acontece na plenária final, nesta quinta-feira, dia 14 de maio, promete muita confusão.