Por 510 votos a favor, 454 contrários, dois votos nulos e quatro brancos, os trabalhadores técnico-administrativos das universidades brasileiras decidiram, durante o XX Confasubra, que acontece até sábado, 16 de maio, em Poços de Caldas, Minas Gerais, que a Fasubra vai se desfilar da CUT – Central Única dos Trabalhadores. A decisão foi tomada durante a plenária final do congresso, atravessada por manifestações de todo tipo.
Entre vaias a aplausos, gritos e cantos, choros e risos, a divisão que se expressava nas bases da federação, relativamente à permanência ou não na central, teve um desfecho às 22 horas do dia 14 de maio de 2009. Encerra-se uma caminhada histórica de 26 anos com a CUT, à qual a Fasubra era filiada desde 1983. Do cenário que se preanuncia no congresso, agora é tempo de semear, em novas bases, a reorganização dos trabalhadores das universidades. Só o tempo dirá o rumo.
Universidades das Américas
Antes do inicio plenária final do XX Confasubra, que aconteceu na quinta-feira, dia 14 de maio, foi apresentada a proposta de regimento para o processo eleitoral da direção nacional e do conselho fiscal da Fasubra. Depois da aprovação do regimento, iniciou-se a plenária final do congresso. O primeiro assunto a ser debatido e votado foi sobre a participação da Fasubra no processo de construção da Contua – Confederação dos Trabalhadores das Universidades das Américas.
Léia de Souza Oliveira, uma das coordenadoras da Fasubra, explicou que desde o início deste processo a Fasubra vem participando dos encontros internacionais. Portanto, o Confasubra somente iria referendar o que já está acontecendo na prática. Sem intervenções contrárias, a participação no Contua foi colocada em votação e aprovada pela plenária.
“Globalizar a solidariedade”
O segundo tema apreciado pelos delegados foi a filiação ou não da Fasubra à ISP – Internacional de Serviços Públicos. Neste ponto, ficou definido que haveria duas manifestações favoráveis e duas contrárias à filiação.
O primeiro a defender a filiação da Fasubra à entidade internacional foi um dos coordenadores da federação, João Paulo Ribeiro. O dirigente disse que defende a filiação, pois considera a ISP um instrumento importante de luta da classe trabalhadora. Afirmou também que a Fasubra já participa de encontros internacionais de trabalhadores e a troca de experiência com a entidade vai dar sustentação política para a criação da Contua.
Léia de Souza Oliveira também defendeu a filiação. Afirmou que a Fasubra é parceira da entidade. Disse que os trabalhadores, há 15 anos, “estão bebendo a água da produção da ISP”. Para ela, é necessário “globalizar a solidariedade dos trabalhadores no mundo”. Por isso, defende a filiação.
“Primeiro arrumar a casa”
Bernadete Meneses, da UFRGS, disse que seria uma contradição aprovar a filiação. Segundo ela, os trabalhadores não estão conseguindo se organizar nem no Brasil, então, seria um absurdo se filiar à ISP. Outro ponto levantado pela trabalhadora é de que a filiação não foi discutida na base da categoria. Ela acredita que a maioria dos delegados do congresso não sabem o que é a ISP. “Temos que avançar na organização internacional, mas antes temos que organizar a coisa na nossa casa”, concluiu.
Marco Borges, um dos coordenadores da Fasubra, que também é da coordenação do Sintufsc, em sua intervenção fez uma pergunta: “É um pacote fechado participar da Contua e da ISP?”. Ele também acredita que primeiro é necessário arrumar os problemas aqui no Brasil, para depois se filiar a instituições internacionais. Depois fez mais um questionamento, para concluir: “Quanto isso vai nos custar?”
Após as defesas contrárias e favoráveis, foi aprovada a filiação à Internacional de Serviços Públicos. Depois disso, o secretário regional Interaméricas da ISP, Jocélio Drummont , fez uma saudação aos delegados do congresso. “Agora estamos juntos na luta”.
Sair ou ficar na CUT?
Na decisão sobre a manutenção da filiação ou não da Fasubra à CUT ficou acordado que haveria quatro intervenções favoráveis à manutenção e quatro contrárias. A votação aconteceu através de urna, e o processo todo foi feito em uma hora e trinta minutos.
Antes de começarem as defesas se ouviam muitas provocações dos dois lados da plenária. Em um deles ouvia-se o canto: “Ai..ai..ai..ai..está chegando a hora….o dia já vem raiando, meu bem, e a CUT já vai embora.” Do outro, levantava-se o grito: “Central Única dos Trabalhadores! Central Única dos Trabalhadores.” A mesa teve que interferir várias vezes para que os delegados que iriam fazer as defesas pudessem falar.
“Derrotar o capitalismo, não reformá-lo”
Bernadete Meneses, da UFRGS, começou dizendo que os trabalhadores querem derrotar o capitalismo e não reformá-lo. Falou que a discussão sobre a desfiliação da federação da CUT já foi feita na base. No caso da UFRGS, por exemplo, foram feitos debate, assembléia e um plebiscito, que deliberou pela desfiliação.
Para ela, a unidade da classe trabalhadora não depende de estrutura de nenhuma central. “Depende da vontade de luta da classe”. A trabalhadora defendeu que os trabalhadores continuem na luta para derrotar tudo o que for contra a classe trabalhadora.
“Risco de ficar sozinhos”
Cristina Del Papa, uma das coordenadoras da Fasubra, disse que se os trabalhadores aprovassem a desfiliação da Fasubra da CUT, iriam ficar sozinhos na luta. Segundo ela, durante dois anos nenhuma central vai poder representá-los.
Isso porque, advertiu, só se está votando a desfiliação da central, não a filiação a outra. Também disse que se isso acontecer não será mais possível negociar com o governo. Depois afirmou que o voto é secreto, por isso os delegados não precisavam ficar com medo de votar contra a desfiliação.
“Chantagem barata”
João Paulo Ribeiro afirmou que a unidade da classe trabalhadora nesse momento passa pela desfiliação da CUT. Lembrou que existem muitos sindicatos da base da federação que nunca foram filiados à central e outros que eram filiados, já saíram.
Disse também que a ameaça feita de que não haverá mais negociação com o governo, se for aprovada a desfiliação, é “uma chantagem barata”.
“Vanguarda da luta”
Léia de Souza Oliveira começou falando que os trabalhadores já tiveram muitas perdas nos últimos anos e que, se aprovarem a desfiliação, vão perder ainda mais. Negou que a CUT seja uma entidade pelega, governista e traidora. Disse os trabalhadores não podem destruir uma central que está na vanguarda da luta.
Depois dessa defesa, criticou as outras centrais, principalmente a Conlutas, que, segundo ela, já nasceu dividida e ainda é dirigida apenas por um partido, o PSTU. Falou ainda que a história dos trabalhadores no Brasil se confunde com a história da CUT, e isso não pode ser abandonado.
“Reorganização fora da CUT”
Agnaldo Fernandes, da UFRJ, disse o XX Confasubra é um momento histórico para a classe trabalhadora. Ao fazer uma retrospectiva, lembrou que, na década de 80, os trabalhadores viveram um momento intenso de luta e, a partir daí, nasceram dois instrumentos importantes: A CUT e o PT. Segundo ele, esses instrumentos estavam a serviço do conjunto da classe trabalhadora. “Isso era um elemento fundamental, que foi perdido pela CUT”.
Agnaldo também alertou que dezenas de companheiros de luta deixaram a central, e muitos sindicatos e entidades também se desfiliaram. “Não é possível que todo mundo esteja errado”, afirmou. Disse também que a classe trabalhadora está vivendo um processo de reorganização e que esse processo está fora da CUT. Para ele, neste processo de reorganização, a Fasubra não pode estar filiada a qualquer central.
Fasubra está fora da CUT
Depois da fala de Agnaldo, começou o processo de votação. Com o horário avançado, a plenária ficou esvaziada. Após cerca de duas horas, às 22h, saiu o resultado da apuração.
Por 510 votos a favor, 454 contrários, dois votos nulos e quatro brancos, os trabalhadores técnico-administrativos das universidades brasileiras decidiram que a Fasubra vai se desfilar da CUT – Central Única dos Trabalhadores.