Estou com gripe. (Quem manda não tomar a vacina!). Mas não tem escapatória. Tenho que resumir quase 35 anos de profissão em duas laudas. A história começa nos idos de 1971 quando um professor da Escola Básica Felipe Schmidt, da Itoupavazinha, em Blumenau, perguntou o que eu queria ser. Respondi que sonhava em fundar e editar o Diário das Selvas.
Quatro anos depois, imaginando ser contratado na antiga fábrica de Chapéus Nelson, ingressava pela porta dos fundos no Jornal de Santa Catarina (JSC). Lá fiz de tudo um pouco. Passei pelo cafezinho, pela rádio-escuta, pelos teletipos, penteei telex, captei radiofotos e telefotos. Conheci de perto a composição, a revisão, o arquivo, a fotomecânica e as rotativas em offset (presenciei a primeira calandra chegando a SC).
Na Redação, fui auxiliar, repórter, redator, copidesk, editor e até editorialista de ocasião.
Lancei colunas, escrevi artigos e criei as páginas de Agricultura e Meio Ambiente. (pensava estar semeando consciência ecológica para evitar catástrofes!). Após ouvir o meu nome no rádio (estava de carona com o diagramador), descobri que tinha passado no Vestibular da UFSC (Ciências Sociais). Então, em janeiro de 1979, desembarquei na sucursal do Santa em Florianópolis. Sem onde morar, acabei numa pensão malfalada na Conselheiro Mafra. A mudança mostrou-se radical. Enxergava p(a)utas e matérias por todos os lugares. Passei a me dedicar de corpo e alma ao jornalismo.
Além do dia-a-dia, produzia reportagens especiais para as edições de domingo. Escrevia com a certeza de estar ajudando a melhorar a vida das pessoas. Indignado com a injustiça social e a exploração da categoria, participei da fundação do Movimento de Oposição Sindical (MOS). Conquistei prêmios, arrumei inimigos e colecionei demissões e exonerações. Tentei ser sempre preciso e correto, como manda o Código. Acabei sendo parcial e, às vezes, até injusto. Na Novembrada de 1979 foi a vez de apanhar. Aliás, sempre apanhei mais do que bati. Matérias censuradas e hospitalizado, a conduta da polícia foi considerada exemplar pelo meu jornal. Bem feito!
Entendo que o jornalismo reúne a possibilidade de contribuir para a transformação social e política. Não considero a imprensa um poder, mas acredito no seu poder cidadão de fortalecer a democracia. A informação tem que ser encarada como gênero de primeira necessidade na mesa de um povo.
À esteira do movimento pela redemocratização, estive presente na fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT). As campanhas pela Anistia e pelas Diretas-Já igualmente marcaram minha vida de jornalista e militante.
Fiz assessoria sindical, cometi “frilas” para jornalões e aluguei minha pena aos nanicos. No Sindicato dos Jornalistas fui membro da direção e pela quarta vez integro a Comissão de Ética. Na Federação (Fenaj) fui delegado e diretor de Base eleito. Fiz parte ainda do Conjai, da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC) e coordenei o Fórum Nacional de Assessores de Comunicação das Instituições Federais de Ensino Superior. A Política Pública de Comunicação da UFSC ganhou em 1994 o Prêmio José Reis do CNPq.
Foram, enfim, muitas vitórias e inúmeras derrotas. Faria, portanto, quase tudo de novo. Porém, com mais responsabilidade, sem, no entanto, abandonar a ironia e a linguagem subliminar que me custaram tão caro.
Lamento ainda que a imprensa não tenha conseguido avançar no seu dever de denunciar a violação diuturna dos direitos humanos. Apesar da imprensa livre, a tortura, por exemplo, ainda campeia pelo Estado e pelo País. Paralelamente grassa o monopólio e a censura econômica compromete a liberdade de expressão.
O exercício do jornalismo hoje, para mim, é um esforço mais físico do que mental, já que permaneço dependente da velha Lexikon 80. Sinto falta das grandes reportagens, das conversas de bar e do ambiente de jornal. As novas tecnologias desumanizaram as redações. Outro dia visitei um diário. Enquanto um colega conversava comigo, outro levantou, pediu silêncio e apontou o caminho da porta!
No jornalismo é necessário ser preciso. Esse cuidado eu tomei em 1978. Mas, ao ouvir de madrugada a manchete no rádio, percebi que o título não soava bem: “Diarréia ataca gado no Rio Grande do Sul…”.
Moacir Loth, jornalista desde 1975, nasceu em Blumenau em 8 de junho, dirige a Agência de Comunicação da UFSC (Agecom), escreveu Educação, Ideologia e Constituição e organizou Comunicando a Ciência.