
Os Técnicos Administrativos em Educação reunidos em assembleia de seu sindicato, o SINTUFSC, no dia 03/12, reivindicam ao Conselho Universitário que não aceite a proposta da Reitoria transmitida pela Coperve sobre a entrada de novos estudantes na graduação para 2021 e com isso abra amplos debates com a comunidade da UFSC e com a sociedade. O processo seletivo para entrada na universidade não é uma questão menor, possui amplas repercussões sociais, culturais e educativas e não pode ser tratada como uma decisão meramente operacional.
Se por um lado é certo que é correta a escolha pela não realização do vestibular, tendo em vista seus impactos no contágio de COVID-19, por outro tendo em vista a necessidade mudança não é razoável que um amplo debate fosse realizado com a comunidade? Que os conselhos de unidade, os colegiados de departamento e curso fossem chamados a se pronunciar, que as entidades estudantis e dos trabalhadores fossem ouvidas, que os estudantes e trabalhadores pudessem participar de discussões densas sobre a matéria que envolvesse a comunidade interna e externa?
A proposta da reitoria, de uso das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) desde sua aplicação em 2009, restringe demasiadamente o universo de possíveis candidatos. Além disso, a proposta não leva em conta o conhecimento crítico produzido sobre as formas de ingresso, e o amplo debate sobre a questão no campo da educação e nos movimentos universitários. As críticas ao vestibular não são novas, tampouco o são ao ENEM – desde sua apresentação em 2009 como o “Novo ENEM”, o movimento estudantil, os técnicos e professores vem criticado duramente a prova.
Com a sua proposta a reitoria não só exclui muitos de se candidatarem a entrar na UFSC, como mantém a mesma lógica perversa do vestibular. Ambos, ENEM e Vestibular, calcam-se na meritocracia, aqueles que têm as melhores notas nas provas estariam aptos a entrar na universidade, este resultado expressaria seu mérito nos estudos e esforços. Nada mais falso, sabe-se que os resultados das provas demonstram apenas que alguns souberam responder melhor aquela prova – ou por acidente, ou porque tiveram melhores condições de se preparar para ela.
A forma de entrada tem repercussões internas e externas, em aspectos culturais e educativos – como modificações nas aulas do ensino médio, a proliferação de cursinhos preparatórios, toda uma cultura escolar que está se voltando para ensinar a fazer uma prova de vestibular e não para a vida, etc, para citar apenas alguns. Nós debatemos essas repercussões detidamente?
Sem contar que existem formuladas pelos movimentos propostas que merecem um debate sério, como a possibilidade de entrada por sorteio público, que podem ter efeitos sobre as distorções dos processos seletivos. Esta é uma proposta importante que merece atenção, pois altera a lógica de entrada na universidade. Ela merece uma análise coletiva rigorosa.
Não nos enganemos, este não é um debate meramente operativo, qualquer escolha aqui tem implicações gerais – pedagógicas, políticas, culturais. Elas podem aprofundar a desigualdade de acesso à Universidade vivida pela maior parte dos estudantes e trabalhadores de nosso país, ou podem mitigá-las. Se a quantidade de vagas em instituições públicas já é uma barreira, o método de entrada não precisa torná-la ainda maior.
Conselheiros não tomem uma decisão apressada, e que será por certo não apenas um equívoco mas um caminho para muitos mais. Abramos a universidade para fazer o que ela faz tão bem, o debate amplo e democrático sobre questões sensíveis de nosso tempo. Esta é uma delas.
