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A Fasubra e as eleições

A Fasubra e as eleições

Por Elaine Tavares – jornalista

A decisão da plenária da Fasubra sobre as eleições presidenciais não causou surpresa alguma naqueles que vem acompanhando a ação desta federação desde o começo do governo de Luis Inácio. Hegemonizada por um grupo que sempre esteve nas fileiras do PT e do PCdoB (aliados incondicionais do governo), a Fasubra, desde 2003, vem guinando suas ações para a sempre nociva conciliação de classe. Tanto que a famosa greve de 2003, imposta pela base contra a reforma da Previdência, acabou de forma inusitada com uma proposta de nova tabela salarial. Esta mesma que aí está e sobre a qual ainda seguem sendo necessários ajustes e mais ajustes. Na verdade, a lei tirada daquela fatídica greve mais parece um gigantesco minotauro, comento todas as esperanças de uma carreira de verdade. É certo que vieram ganhos financeiros para alguns, isso não dá para negar, mas as perdas políticas foram e seguem sendo grandes. Uma delas é essa que se expressa na última plenária: a federação continua dominada por uma razão de estado, totalmente perdida de suas funções de organizadora da classe trabalhadora. Com esta decisão de orientar a formação de comitês para “companheira” Dilma em todas as universidades, a Fasubra assume ainda mais a cara governista, mostrando que um dos seus preceitos mais importantes, a independência diante de qualquer governo, está perdido nas teias do processo eleitoral.

Muitos dos trabalhadores que insistem em ter uma Fasubra livre, sem vinculações político-partidárias e classista já estão se levantando contra essa decisão que, flagrantemente fere os estatutos da entidade. Mas, nestes tempos em que nem ética nem perfil classista podem ser encontrados nas forças que dominam a federação, quem pode esperar que o estatuto seja respeitado? As alegações das forças que apresentaram esta proposta estapafúrdia são que os comitês serviriam de espaço para os técnico-administrativos, estudantes e professores apresentarem suas propostas para a universidade, mas o texto tirado em plenária é bem explícito: “confirmada a candidatura da companheira Dilma Russef para Presidência da República do Campo Democrático e Popular, a FASUBRA orienta a organização de COMITÊS – Pró Dilma nas UNIVERSIDADES, com a participação dos técnico-administrativos em educação, docentes e estudantes”.

Ora, ao dar à Dilma o adjetivo de “companheira” a federação já assume uma posição e ao nominar os comitês como Pró-Dilma, a que se referem senão ao apoio eleitoral à candidata petista? Logo, a decisão que foi tomada por 58 votos a favor e um contra, tendo sete abstenções, é absolutamente clara. Pela primeira vez, a Fasubra escancara seu apoio a um candidato em especial, misturando-se, portanto, ao rol das velhas centrais pelegas que sempre tiveram como prática o uso instrumental das instâncias dos trabalhadores para o apoio a governos totalmente desligados dos interesses de classe.

Para mim não há qualquer problema no fato de as lideranças terem suas preferências partidárias ou mesmo militarem nos partidos políticos. Tampouco incomoda a existência da luta partidária dentro dos sindicatos e federações, afinal, não é neutralidade que se exige de uma entidade de classe e sim que caminhe na direção da libertação dos trabalhadores da dominação do capital. Isso é legítimo e bom, porque politiza a luta dos trabalhadores e oxigena o debate. Mas, uma entidade sindical, de luta, e que tem como patrão imediato o governo, não pode impor um candidato governista aos trabalhadores. O que sempre foi feito, e é o saudável, é a discussão das candidaturas do campo da esquerda, a divulgação de suas propostas e o debate aberto sobre as idéias de cada um dos nomes propostos, para que os trabalhadores possam se orientar por uma candidatura de classe, o mais próximo possível dos desejos de mudança e transformação.

A decisão da última plenária da Fasubra coloca o movimento sindical das universidades numa posição bastante perigosa. Rasga seus estatutos, viola pressupostos de liberdade e independência e abre graves precedentes. Os trabalhadores precisam saber quem são os candidatos, quais as suas propostas, precisam ser informados sobre quais estão no campo da direita, quais estão no campo da esquerda e quem representa a proposta social-democrata. Precisam debater os programas, compreender as posições de cada um, ter clareza dos projetos para o Brasil que cada um defende. Afinal, uma eleição presidencial coloca em questão o futuro do país inteiro e é papel do sindicato e da federação esclarecer todos os elementos envolvidos no pleito. A disputa dos corações e mentes deveria ser feita aí, nestes momentos, nestes espaços libertários abertos pelos sindicatos. Aí é onde os militantes dos partidos de esquerda deveriam, de maneira justa e limpa, disputar os projetos.

Como, no Brasil, não estamos vivendo nenhum processo revolucionário e como a esquerda ainda apresenta propostas divergentes e vários candidatos o correto seria orientar aos sindicatos para que realizassem o debate sobre as diferenças de projeto entre direita e esquerda. Isso sim seria alfabetizar politicamente os trabalhadores, isso seria atuar no rumo da libertação, no caminho do conhecimento. Induzir o voto a um determinado candidato é não reconhecer a capacidade dos trabalhadores de, sabendo acerca dos projetos, decidir.

A Fasubra, representada pelo seu campo majoritário, perde a chance histórica de mostrar que faz bem o seu trabalho, levando conhecimento a sua base e permitindo uma escolha consciente, de classe. Impondo um comitê pró-Dilma a Fasubra se apequena e apequena seus comandados. Até porque, Dilma Russef não representa uma proposta de transformação radical, de esquerda. Ela é a seqüência do caminho social democrata seguido por Lula. Um governo que melhorou “um pouco” a vida de alguns, coisa que é típica da social-democracia. Mas, aos que continuam querendo que a vida de “todos” passe por transformação, essa tampouco é a saída.

Por fim, entendo que esta não é uma queda de braço que deva se dar no campo jurídico, com estudos sobre os estatutos ou coisa assim. A resposta deve vir no campo político com os sindicatos da base mostrando serem muito mais maduros do que a direção nacional. Estes devem abrir espaço para o debate político, para os candidatos de esquerda e para a exposição das propostas divergentes. Mostrar o que está em jogo, expor a mentira dos partidos de direita, formar os trabalhadores para a participação real. Não apenas nas eleições, mas na vida.

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