
O economista do Dieese defendeu o papel das entidades sindicais na discussão dos rumos da política do País. “Enquanto hoje 20 mil famílias concentram a renda, nada dão em troca para a sociedade e ficam fazendo política. Por outro lado, pregam o discurso de que sindicato não tem nada a ver com política, e infelizmente muitos trabalhadores embarcam nessa”, observou José Álvaro. Segundo ele, existem economistas que defendem a realização do superávit primário, enquanto se calam para a necessidade de uma auditoria da dívida pública do País, exigência que está na Constituição e que deveria ter sido feita depois de um ano da promulgação do texto constitucional. “Precisamos definir o quanto é legítimo e o quanto é fruto de corrupção”, ressaltou.
Ao fazer uma retrospectiva histórica do endividamento público, Nildo Ouriques destacou que em 1994, época do lançamento do Plano Real, a dívida interna do País era praticamente inexistente, num patamar de R$ 64 bilhões. Na época foi escolhida a inflação como o inimigo número um a ser combatido, mas o que se viu foi o contínuo crescimento da dívida interna. Alcançou R$ 740 bilhões nos dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, passou para R$ 1,5 trilhão nos dois períodos do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e atingiu a cifra de R$ 3 trilhões no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
Nildo Ouriques destacou que o tema da dívida é ocultado para que permaneça ignorado pela maioria das pessoas. “Não existe noção de grandeza, mas quando comparamos os números a primeira coisa que cai por terra é o argumento de que os salários dos servidores são elementos que provocam desequilíbrio nas contas públicas”, ressaltou. Enquanto o custo total da máquina pública no ano passado foi de R$ 237 bilhões, equivalentes a 4% do PIB estimado de quase R$ 6 trilhões, o pagamento apenas com juros e encargos com a dívida chegou a R$ 170 bilhões no mesmo período, somados à amortização e refinanciamento da dívida em R$ 800 bilhões, chegando a R$ 1 trilhão de desembolso em apenas um ano.
Segundo ele, quem se beneficia com isso são os banqueiros, os latifundiários e as multinacionais e enquanto essa lógica não se inverter o cenário conjuntural vai registrar casos de redução nominal de salários, como a classe trabalhadora vem aceitando. Nildo Ouriques não acredita que a política de ajuste fiscal adotada pela presidente Dilma seja um cenário de curto prazo. Segundo ele, a dívida perpetua a existência de greves absurdas e insanas como esta vivenciada pela categoria, com paralisações que duram três, quatro meses.
Entre as recomendações de leitura sugeridas pelo professor Nildo Ouriques está o site na Internet da associação sem fins lucrativos Auditoria Cidadã da Dívida, que defende o cumprimento do artigo das Constituição que trata do assunto. A associação tem como coordenadora nacional a economista Maria Lucia Fattorelli, que já trabalhou na auditoria das dívidas de países latino-americanos e foi recentemente convidada para participar da auditoria da dívida externa da Grécia.
Realizado periodicamente como atividade de greve, o debate é uma iniciativa do Comando Local de Greve dos TAEs no sentido de aprofundar o conhecimento da categoria sobre temas que dizem respeito a todos. A mesa de debates foi mediada por Celso Ramos Martins, da coordenação geral do SINTUFSC e do CLG.


