O SINTUFSC – Sindicato de Trabalhadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), atendendo à deliberação da Assembleia Geral Extraordinária da categoria, ocorrida em 30 de março do presente ano, vem por meio deste dirigir-se a toda a sociedade com o objetivo de explicitar os motivos que nos fizeram recorrer à deflagração da greve a partir do dia 04/04/2022.
Ao contrário do que a grande mídia veicula cotidianamente, de forma leviana e irresponsável, os Técnicos-Administrativos em Educação da UFSC jamais estiveram parados durante o período pandêmico. Desde o início da pandemia, cerca de metade de nossa categoria profissional, lotada no Hospital Universitário, entre eles enfermeiros, médicos e outros profissionais da saúde, seguiram desenvolvendo suas atividades presencialmente, sendo a verdadeira linha de frente da defesa do nosso povo, arriscando suas próprias vidas e de seus familiares. Mesmo durante esse período atípico, a administração do Hospital Universitário não hesitou em cortar o fornecimento de refeição para os profissionais em plantão, que são mantidas por várias outras instituições de saúde públicas ou privadas, eliminando assim um direito conquistado há décadas e imprescindível para a manutenção da qualidade de trabalho no HU. Além disso, a ausência de Equipamento de Proteção Individual – EPI nos momentos mais graves da pandemia e a deterioração dos espaços físicos do hospital foram sistematicamente denunciados por este sindicato ao Ministério Público e à Vigilância Sanitária.
Tampouco esteve parada a outra metade dos trabalhadores da UFSC, lotados nos Centros de Ensino, campi do interior e unidades administrativas. Nestes casos, os trabalhadores se viram obrigados, por força das circunstâncias, a reformular suas rotinas de trabalho e manter funcionando, a partir das suas casas, todos os setores administrativos da universidade, arcando do próprio bolso a elevação dos custos com energia elétrica, material de escritório, computadores e mesas, muitas vezes trabalhando para além de seus horários de trabalho.
Ao contrário da iniciativa privada, nós trabalhadores do Serviço Público não temos reajuste anual de nossa remuneração. Nosso salário mantém-se igual, sem qualquer reajuste, há SETE anos. Essa estagnação, aliada à alta da inflação, representa uma perda salarial de mais de 50% no período. De forma que nossa reivindicação, de reposição salarial de 19,99% – suficientes para cobrir os últimos dois anos – faz-se bastante razoável e justa. A elevação dos preços da gasolina, dos aluguéis, da energia e dos alimentos tem tornado a vida dos técnicos administrativos da UFSC simplesmente inviável.
Não obstante, a Reitoria da UFSC também não se omite em atacar os trabalhadores. Na última semana descobriu-se que, na surdina, a Administração Central encaminhou ao Conselho de Curadores da UFSC proposta de revogação do subsídio à alimentação dos Servidores Técnicos-Administrativos no Restaurante Universitário, fazendo com que o preço da alimentação neste local salte de R$ 2,90 para R$ 13,68, o que corresponde a mais de 300% de aumento. A absurda proposta, construída com base numa contabilidade fantasiosa, chegou a esse valor considerando os valores das refeições nos Restaurantes Universitários dos campi CCA, Araranguá, Blumenau, Curitibanos e Joinville, que são terceirizados, e por isso contemplam o lucro dos operadores destes restaurantes e desconsideram os ganhos de escala do principal RU da UFSC – o do campus Trindade, que é administrado pela própria UFSC. Desta forma, a Administração tenta repassar aos trabalhadores da UFSC os custos das promessas que tem feito a esmo no processo eleitoral para a reitoria que está em curso.
A manutenção desse subsídio é uma verdadeira necessidade, uma vez que o vale alimentação recebido pelos trabalhadores, de R$458,00, o mesmo há 5 anos, não compra hoje sequer uma cesta básica na cidade de Florianópolis, orçada em R$707,00, segundo o DIEESE.
Como se não bastasse, com o retorno ao trabalho presencial, antigas mazelas têm se mostrado agravadas. A péssima condição de diversos setores, que apresentam infiltrações, mofo e vazamentos, aparelhos de ar-condicionado sem funcionamento, problemas no sistema de rede, banheiros sem manutenção e ambientes sem qualquer ventilação tornam insalubre o ambiente de trabalho. Os problemas estruturais somados ao fato de hoje a principal ferramenta de gestão de pessoas da UFSC ser a prática do assédio moral, e a total indisposição da Reitoria em dialogar com nossa categoria nos levaram a tomar a decisão pela greve.
Rechaçamos quaisquer discursos que tentem nos pintar como privilegiados ou marajás. Somos pais e mães de família, trabalhadores, com salários quase sempre corroídos pelos empréstimos bancários, muitas vezes a única alternativa para fechar o mês alimentando nossas famílias.
Reforçamos nosso compromisso com a sociedade e com o cidadão, e por isso salientamos, especialmente aos estudantes da Universidade, que manteremos com os representantes das demais categorias da UFSC diálogo aberto para minimizar os impactos de nosso movimento para os usuários. Entendemos que nossa luta por reajuste salarial e melhores condições de trabalho contribui para a luta de todos os trabalhadores contra o rebaixamento das condições de vida. Por isso conclamamos todos que defendem o serviço público a somarem apoio a esta luta que é de todos nós.
Estabeleceremos, a partir de segunda-feira, dia 04 de abril, um Comitê de Ética da greve, que irá definir quais serviços serão considerados essenciais e manter o funcionamento. Garantimos que todas as atividades relacionadas à permanência estudantil serão mantidas.
Divulgaremos para a imprensa e para a sociedade notas semanais de atualização de nosso movimento, e estabeleceremos diálogo por meio de canais que serão divulgados em breve.
Chega de precarização! Reajuste não é aumento, é um direito! A alimentação e vida digna são direitos dos quais não abrimos mão. Serviço público de qualidade se constrói com a valorização do Servidor!
Nesse sentido, os trabalhadores da UFSC se utilizam da greve para reivindicar:
Nacionalmente:
– Pela reposição salarial de 19,99% para todo o funcionalismo público (defasagem de 7 anos);
– Por uma data base para os trabalhadores;
– Pela revogação da Emenda Constitucional 95, que estabelece teto de gastos para as políticas públicas sociais;
– Pelo arquivamento da PEC 32 (Reforma Administrativa) que precariza os serviços públicos;
– Pela alteração da legislação federal para destinação de verba para educação básica;
Localmente:
– Pela manutenção do valor atual do RU para os servidores;
– Pelo retorno da alimentação para os servidores do HU;
– Pela melhoria das condições de trabalho, garantido espaço salubre e com condições sanitárias necessárias;
– Pela manutenção do trabalho remoto/híbrido para pessoas do grupo de risco.
Florianópolis, 2 de abril de 2022.
Comando Local de Greve dos Servidores Técnicos-Administrativos da UFSC

