A tarde da terça-feira, dia 12 de maio, terceiro dia do XX Confasubra, foi destinada à discussão do tema Concepção do Estado e Autonomia Universitária. Kátia Lima, professora da Federal Fluminense, disse que esta discussão deve partir da avaliação dos rumos da educação. Segundo a professora, hoje existe uma grande precarização das universidades, que faz parte de um conjunto de alterações no mundo do trabalho.
Alterações que, segundo Kátia Lima, retiram direitos da classe trabalhadora. E significam também o desmonte da educação pública, através de projetos que pretendem transformar as universidades públicas em organizações sociais. “É uma reconfiguração que está difundindo um projeto neoliberal de educação e de sociedade”, afirma. Ela também falou sobre o Reuni, programa que promete a expansão das universidades, mas impõe metas e transforma as universidades em “colegiões”. Segundo Kátia, a lógica de autonomia tocada pelo governo amplia a atuação do setor privado na área de educação.
Aloísio Teixeira, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, falou que o Brasil é um estado capitalista, que sempre foi contra os trabalhadores. Estado que, segundo ele, sempre esteve a serviço de ditaduras ou do imperialismo. “Esta é a realidade do estado brasileiro. Aqui é a Meca da desigualdade social”, afirma.
Para ele a universidade sempre foi uma instituição de elite, que não serve ao país.
Depois dessas críticas, o reitor da UFRJ passou a defender as políticas do governo para educação, como o Reuni. Segundo o que relatou Teixeira, quando surgiu esta proposta, havia muitos problemas, que posteriormente foram resolvidos. Ele disse que desde quando assumiu a universidade, em 2003, a verba de custeio quadruplicou, o que ele considera um grande avanço. Também disse que, com o Reuni, a UFRJ vai fazer concurso público e abrir 700 vagas.
O deputado federal Fernando Marroni afirmou que se sentiu contemplado com a fala do reitor. Depois disse que não pode admitir que falem que o governo do Brasil é neoliberal. Segundo ele, o governo Lula é um governo que está disposto a fazer reformas e mudanças, que já estão em curso. O deputado também defendeu que os trabalhadores lutem pela isonomia dos segmentos da universidade. “ Alunos, professores e técnicos têm que ter o mesmo peso de voto na instituição”. Para ele a luta pela autonomia é contra as fundações de apoio. Também defendeu o Reuni, argumentando que aumentar o número de alunos não quer dizer que a qualidade de ensino vai cair.
Corrupção via fundações
Bernardo Correia, estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, falou contra o governo Lula. Explicou que a reforma universitária regulamenta as fundações. E questionou: É assim que vamos combater as fundações? Depois fez uma provocação: “Então vou propor que a gente regulamente o tráfico de drogas, quem sabe assim podemos combatê-lo”. Para ele as fundações de apoio não representam somente a privatização das universidades. “Representam a corrupção dentro das universidades”. E citou alguns exemplos no país. Bernardo também criticou o Reuni, que exige 90% de aprovação, e lembrou que o programa amplia vagas, mas não contrata trabalhadores.
Durante a fala do estudante, o reitor da UFRJ tentou interferir, abriu uma polêmica, e o plenário reclamou muito. Bernardo prosseguiu sua intervenção, citando o exemplo da aprovação do Reuni na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na sessão do CUn que aprovou o projeto, recordou, houve a presença da Polícia Federal, para prender os estudantes. Para Bernardo, estão acabando com a universidade pública brasileira, e a grande tarefa dos trabalhadores é garantir a democracia nas universidades. Ele acredita que é necessário se construir um plano de lutas e buscar a unidade de todos os segmentos da universidade.
Arminda Mourão, da Universidade do Amazonas, começou sua intervenção fazendo uma pergunta: “Vamos jogar a proposta de universidade cidadã da Fasubra na lata do lixo?” Segundo ela, a expansão que o governo está fazendo na área de educação é do ensino privado e das faculdades isoladas. A autonomia, diz Arminda, está sendo atropelada, pois os conselhos universitários não estão sendo ouvidos. Ela também criticou o Reuni, que acarreta os mesmos problemas que enfrentam hoje o ensino médio e fundamental. Ou seja, fazem aprovação automática. “O movimento sindical não pode ficar cego diante dessa situação”, concluiu.
Reitor bate boca com estudante
Durante a fala de Arminda, o reitor da universidade Federal do Rio de Janeiro tentou ir bater boca com o estudante Bernardo, e acabou atrapalhando a condução dos trabalhos. Como foi impedido, Teixeira tomou a decisão impulsiva de se retirar da plenária. Os delegados do Confasubra se revoltaram com a situação e começou uma grande confusão. O reitor acabou saindo do local escoltado por alguns delegados da Tribo. Lá fora, foi cercado pelos participantes do congresso e, depois de muita confusão, resolveu voltar, atrapalhando mais uma vez a intervenção de Arminda.
Depois do ocorrido, a mesa apaziguou os ânimos, garantiu que Arminda concluísse sua fala, e deu um minuto para o reitor da UFRJ e Bernardo Correia se explicarem. Logo em seguida, foram abertas as discussões do plenário, novamente com uma chuva de inscrições. O debate avançou até o começo da noite, e o congresso continuou com um enorme atraso e com a programação toda alterada.