As forças majoritárias que atuam hoje na Fasubra conseguiram dar resposta à ordem unida dada pelo presidente Luís Inácio, na reunião patronal que ele promoveu com os reitores das IFES. “É hora de acabar com a greve”, disse, achincalhando com o movimento dos trabalhadores que, segundo ele, insistiam por um reajuste de meros 4% ainda esse ano. Os meros 4% que ele se recusa a dar.
Depois desse dia, que deveria ter servido como alavanca para uma explosão da greve, as forças que atuam dentro da Federação – que são blindagem de Lula – começaram o desmonte. E tudo seguiu num crescendo até o indicativo de aceitação da proposta rebaixada do governo e o fim da greve. O último Informativo da Greve, de 24 de junho, indica rodada de assembleias até o dia 27, mas a direção da Fasubra já encaminhou documento para o governo marcando para assinatura do termo de acordo.Diante disso, cabe a nós, apontar alguns elementos importantes para nossa categoria, que tão bravamente lutou nestes mais de 100 dias, chegando a somar mais de 1500 trabalhadores em greve. Um dos mais bonitos e fortes movimentos dos últimos anos.
1. O primeiro ponto a considerar é que a greve foi desmontada. E como? Desde o início do movimento já foi possível detectar que algumas das forças que se organizam na Fasubra estavam buscando amaciar a greve. Basta dizer que em quase dois meses de paralisação o Comando Nacional não conseguiu produzir uma boa análise de conjuntura. Foi preciso muita gritaria das bases para que as forças organizadas largassem suas pautas particularistas e orientassem os trabalhadores sobre o cenário da luta, os adversários, os aliados e o fôlego do movimento. Aqui é preciso apontar a dedicação e a valentia de muitos dos colegas, eleitos pela base para o CNG, que insistiram bravamente para que o Comando atuasse. Outro ponto que foi orientado pelas bases e totalmente ignorado pelo CNG foi a estratégia de focar no cangote do Lula. Buscar o presidente onde ele fosse e protestar, responsabilizando-o pela demora em negociar e pela falta de proposta. Também foi preciso que passassem mais de dois meses para que uma ação junto ao presidente fosse feita, e foi justamente essa ação que lhe provocou a ira, fazendo com que as negociações avançassem. Apesar disso, o tempo todo, certas forças fizeram de tudo para blindar o presidente, jogando a responsabilidade para o Feijó, que nada mais era do que um preposto de Lula. O chefe foi poupado.
2. Esta foi uma greve em que os trabalhadores foram totalmente abandonados pela base de apoio do governo no Congresso Nacional. A bancada do PT divulgou alguns apoios protocolares, mas em nenhum momento atuou no sentido de cavar mesas de negociação ou de reivindicar junto a Lula uma proposta melhor. Não. Nas últimas semanas atuou, mas no sentido de garantir o desmonte da greve, entendendo que os trabalhadores tinham ganhado o “que era possível”. Algumas exceções vieram do PSOL, que marcou presença de maneira mais contundente.
3. Lula tripudiou dos trabalhadores ridicularizando a greve, acusando os grevistas de mimimi. Além disso, atuando como um típico patrão burguês convocou os reitores para uma reunião patronal onde distribuiu alguns recursos para as universidades e orientou para o retorno do movimento. Na sua fala propagandística aos reitores, contrabandeou um discurso firme aos seus sacerdotes nas bases sindicais para que tratassem de encerrar a greve. Revelava assim, claramente, a sua intenção de impor uma fragorosa derrota aos trabalhadores técnico-administrativos, abrindo caminho para sua sonhada Reforma Administrativa, que vem sendo gesta por Fernando Haddad.
4. A partir daí as forças sindicais governistas aceleraram o desmonte, evitando realizar análises de conjuntura, aceitando o discurso de que os limites da negociação estavam dados e que nada mais poderia sair do governo, por mais que a greve seguisse bastante forte em todo país. Na semana passada ainda manipulou o resultado das assembleias de base, fazendo crer que a maioria estava aceitando a proposta rebaixada do governo. Estas forças sabotaram a força da greve, enfraqueceram o movimento e levaram os trabalhadores a esse momento de retorno praticamente sem ganhos significativos.
1. As forças governistas na Fasubra fizeram uma escolha clara e definitiva: quebrar o movimento em benefício do capital. Desmoralizaram os trabalhadores e prepararam o terreno para a Reforma Administrativa. Daqui a um mês ou dois, quando Haddad vier com a proposta, os trabalhadores ainda estarão amargando os resultados rebaixados da greve, e isso pode levar a não terem disposição para mais uma batalha, contra algo muito maior do que baixos salários, que será o fim da existência dos TAEs como trabalhadores públicos.
2. Lula igualmente fez uma escolha clara e definitiva: enfraquecer a universidade em benefício do capital. Estender uma greve por mais de três meses, ironizar a luta, rebaixar as propostas e manter a categoria com os piores salários do executivo é atender aos apelos do Banco Mundial e seus congêneres para a destruição da universidade pública. É aceitar que o papel do Brasil no universo do capital é o de ser exportador de matérias-primas, deixando a criação do conhecimento para os países centrais. É ficar bem na foto com os mercadores da educação que sobrevoam o ensino superior como urubus, buscando transformar a universidade em fonte de lucro. Que ninguém se engane: esse governo não quer a universidade necessária.
OS PONTOS POSITIVOS
1. Muito provavelmente a Fasubra encerrará a greve acenando com o cartaz da vitória. Não é vitória. Há ganhos, poucos, quase insignificantes diante da realidade material da vida dos trabalhadores. Uma pequena reestruturação na carreira, a qualificação direta, a diminuição em 14% das nossas perdas dos últimos 10 anos, que com isso somam agora 62%, e a elevação da porcentagem do step em 0,2%, divididos em dois anos. Migalhas, portanto.
2. Outro ganho da greve é a força de mobilização dos TAEs. Na UFSC, contabilizamos mais de 1500 trabalhadores parados e mobilizados nas atividades. Tivemos um retorno bastante qualificado dos trabalhadores do ex-hospital universitário (hoje Hospital da EBSERH), mais de 300 estiveram parados e em luta. Tivemos momentos importantes de formação política, com palestras, debates, conversas versando sobre os grandes desafios nacionais e locais.
3. A força da nossa greve foi capaz de construir uma extensa e qualificada pauta local, levantando setor a setor os problemas vividos pelos trabalhadores no diz respeito à estrutura, à qualidade do trabalho, à saúde e outros tantos aspectos que mobilizam nosso cotidiano. A pauta foi exaustivamente discutida e levada à administração da UFSC que se comprometeu atender o que era possível no momento e a construir alternativas para os problemas mais complexos. Sem a greve isso não teria sido possível nessa profundidade. A participação dos colegas em intermináveis reuniões foi fundamental para que essa pauta fosse real.
A REALIDADE DA GREVE
A posição do Comando Local de Greve da UFSC sobre a proposta apresentada pelo governo na mesa do dia 11/06, sobre a qual Lula diz não ser possível avançar nem mais um passo, é de rejeição. Nossa assembleia aceitou rebaixar a proposta, no debate que houve no CNG e o mínimo que poderíamos aceitar seria a que foi para a última mesa, exigindo os 4% ainda este ano, garantindo assim um mínimo de ganho também aos aposentados. Menos que isso não dá para aceitar.
O FUTURO SERÁ PIOR
Não temos bola de cristal, mas pelo andar da carruagem podemos perceber que o desmonte da greve está fazendo efeito. O movimento vai se encerrar, mas não com nosso voto. Alertamos os trabalhadores para o que virá logo ali na esquina. E o que virá é a Reforma Administrativa. Nesta proposta a possibilidade de os trabalhadores técnico-administrativos perderem o status de trabalhador público é bastante grande. É palavra de ordem do Banco Mundial terceirizar o trabalhador no setor de Educação. Assim, os TAEs deverão ser os primeiros sacrificados, principalmente os de nível médio. Pode ser que os de nível superior se salve, mas se isso acontecer será meramente tático. Lá na frente também cairão, assim como os professores. A proposta de Técnico Substituto é vista com bom olhos pelos docentes e até por alguns TAEs desavisados e ingênuos. E é uma proposta defendida pelo Sinasefe. Porta de entrada para a terceirização. Os prognósticos são sombrios. Entregar a Educação para o setor privado é projeto e nós, os TAEs, somos uma força gigantesca atuando contra, daí a necessidade de nos destruir.