Estudantes, sindicatos e entidades mobilizam-se contra o aumento da passagem de ônibus na capital catarinense
Por: Luiza Bodenmuller
Fotos: Ivanir França
Fonte: Revista Caros Amigos
Há três semanas a cena se repete em Florianópolis: ritmistas, fantasias, pessoas gritando em coro. Ao contrário do que se pode pensar à primeira vista, não é um grupo de foliões, promovendo um carnaval fora de época. É, sim, uma demonstração da união popular na luta contra o aumento da passagem de ônibus na capital catarinense, que foi reajustada em 7,3% no último dia 9, alcançando o valor de R$ 2,95.
As mobilizações, capitaneados pela Frente de Luta do Transporte Público, têm se realizado em frente ao terminal central, local que concentra o maior fluxo de usuários do sistema de transporte público. Ações descentralizadas, ligadas a organizações estudantis, também acontecem junto às Universidades e Escolas. Cada um, à sua maneira, se faz presente, exigindo a revogação do aumento da tarifa, a melhoria na qualidade do serviço prestado e propondo novas formas de redistribuição da arrecadação tributária para subsidiar o custo da tarifa.
Um dos integrantes do movimento, o estudante João Gabriel Almeida, relata que as manifestações deste ano acontecem num contexto bem diferente daquelas ocorridas há cinco anos, nas chamadas Revoltas da Catraca. Segundo ele, houve uma renovação entre os manifestantes, fato perceptível nos atos ocorridos nas últimas semanas, onde se constatou a presença de muitos estudantes do Ensino Fundamental e Médio.
O protesto, em Florianópolis, deixou de ser exclusividade dos universitários. Hoje o movimento conta com o apoio da população e de 42 entidades, entre associações comunitárias e organismos sindicais. Essa união com outros setores organizados da sociedade tem se mostrado como o grande diferencial das ações desse ano em relação aos anos anteriores. Por conta dessa aliança, o movimento está mais organizado, ganhou credibilidade perante a sociedade e ainda conseguiu um subsídio para a produção de materiais de divulgação.
A prova disso é que a discussão tem sido debatida por diferentes esferas sociais e conquistou um espaço na mídia que antes não existiu. Grande parte desse sucesso se deve ao uso das redes sociais para divulgar o movimento. Há toda uma mobilização via Twitter, onde a Frente de Luta alimenta seu perfil (twitter.com/lataofloripa) e os seguidores se encarregam de divulgar calendários, vídeos, fotos e entrevistas, à sua rede de contatos.
Todo esse trabalho de base visa a descriminalização do movimento, alertando as pessoas sobre a importância da causa e também sobre a repressão aplicada pela polícia. João Gabriel explica que a polícia, assim como os manifestantes, está mais organizada e tem direcionado suas ações muito mais pela inteligência do que pela força. Porém, o efetivo policial forma um cordão de isolamento, limitando a área de atuação, e facilitando o surgimento de conflitos entre os dois lados.
Além disso, prisões arbitrárias têm sido usadas como tática da polícia para intimidar os manifestantes. Até agora, oito pessoas foram detidas e liberadas após prestarem depoimento, dois estudantes tiveram que pagar fiança de R$ 400. Entre os detidos, sete eram estudantes e um, jornalista. A Associação Catarinense de Imprensa enviou nota lamentando o episódio envolvendo o jornalista Felipe Neves, repórter do Diário Catarinense, argumentando que “a liberdade de imprensa é coluna essencial na sustentação do estado democrático de direito”.
Nenhuma forma de repressão parece ter atingido a moral dos manifestantes. Na noite desta segunda-feira, eles abriram a semana de protestos com manifestações pacíficas e criativas. Misturando encenações com palavras de ordem, os estudantes tomaram as ruas e conseguiram driblar a contenção policial. A marcha partiu da Udesc, passou pela UFSC e terminou no Terminal de Integração da Trindade, onde os manifestantes bloquearam a entrada e saída dos ônibus.
Ainda para esta semana estão previstos dois grandes atos, além de uma bicicletada. A tendência é radicalizar o movimento, experimentando estratégias e métodos criativos, que motivem mais pessoas a se juntarem à luta. Com música, provocações e ironia, as manifestações tomam as ruas, fortalecendo a consciência crítica coletiva, buscando a melhor solução para todos, sejam usuários do transporte coletivo ou não.
Luiza Bodenmuller é estudante de jornalismo da Estácio de Sá de Santa Catarina.

