Os trabalhadores técnico-administrativos das universidades públicas fecharam três meses de greve. Uma paralisação provocada pelo governo Lula que se recusa a recompor os salários dos TAEs ainda esse ano, apesar de ter sido bastante pródigo com outras categorias, como as polícias rodoviária e federal. Com um dos piores salários do executivo, os TAEs acumulam perdas de mais de 70%. No ano passado, o governo distribuiu 9% de maneira linear, para todas as categorias, o que não diminuiu o abismo que há entre uma e outra. Por isso, a proposta dos trabalhadores é de um reajuste também esse ano, que seria a maneira de ir, pelo menos, driblando a inflação.
Mas, o governo insiste em espalhar meias-verdades pela internet, dizendo que está recompondo até 46% dos salários. Há que explicar que ele agrega os nove do ano passado – que não deveriam contar na soma – e também os benefícios, que só têm incidência sobre os ativos, sem tocar os aposentados. Para esse ano, a proposta é zero, com 14% divididos em dois anos. No primeiro, em 2025, 9%, e no segundo, em 2026, 5%. Também anuncia como uma grande coisa o aumento de 0,1% de aumento do step em 2025 e outros 0,1% em 2026. Isso é bom? Uma olhada nas tabelas para ver como ficam os salários e a gente pode ver que o piso do nível D é menor do que dois salários mínimos. Quem haverá de querer estar nessa carreira? É assim que se valoriza a educação?
Outra falácia que é preciso rebater é o que o Ministro Camilo tem dito em vários espaços de que não se pode resolver toda defasagem que tivemos nos últimos anos em 1 ano e meio de governo. Ora, sabemos disso. E tanto sabemos que a proposta inicial da Federação já foi com percentual bem menor do que nossas perdas e ainda parcelada. A contraproposta então, nem se fala. Pedimos 4% esse ano para minimamente corrigir o salário de acordo com a inflação, o que todo trabalhador tem direito.
Não bastasse isso, o presidente Lula, sindicalista forjado na greve, decidiu reunir os reitores num encontro marqueteiro para anunciar a liberação de recursos para as universidades e, de quebra, tripudiar dos trabalhadores que estão parados há três meses. “Quem fica de greve por causa de 3%?”, ironizou. Se é tão pouco, por que não dá, então? Também usou o palanque para dar um puxão de orelha nos sindicalistas que considera sua base: “Não há motivos para seguir em greve”, disse. Não há motivos? Sem a recomposição dos salários ainda este ano, o presidente aperta o laço no pescoço dos ativos e deixa pendurados os aposentados.
Enquanto mantém os trabalhadores técnico-administrativos à míngua, o presidente Lula anuncia a criação de novos campi, novas escolas técnicas e discursa para estudantes do ensino médio: “ Podem ter certeza de que o maior sonho do pai e a mãe de vocês é deixar vocês com uma boa formação acadêmica. A educação, para mim é uma obsessão. Eu quero que todo filho das pessoas que trabalham possa se formar e ter uma profissão”. Pois é. O que ele não disse é que essa formação certamente virá do ensino privado, já que as universidades federais estão ruindo. Há que dizer ao presidente que uma universidade sem trabalhadores bem remunerados e com ambiente de trabalho adequado não vai adiante. Porque são os TAEs e os professores os que vão propiciar formação a essa juventude. Lula faz discurso emocionado para crianças, mas joga duro e pesado com os trabalhadores.
Na mesa de terça-feira, o negociador anunciou que era o que tinha e ainda fez um jogo de cena para sair da mesa e ligar para a ministra Esther Dweck, na qual conseguiu a incrível cifra de 0,1% a mais no step de 2025. Um acinte! O único ponto que pode ser considerado bom para os trabalhadores é a possibilidade de se chegar ao fim da carreira em 15 anos, com a capacitação. Como a reforma da previdência conta a média dos salários, quanto mais cedo se chegar ao maior salário, melhor. Mas, ainda assim, há o fato de que se fica estagnado em pouco tempo também.
O aceite do Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC) é bom para a carreira, mas ainda vai depender de saber quais serão as regras. Logo, a proposta do governo contém elementos mínimos de carreira, mas não toca de maneira expressiva nas perdas salariais. Os trabalhadores devem responder duramente ao presidente Lula. Sabem que recursos existem, o que não há é vontade política de melhorar a vida e a carreira dos TAEs. Por isso, devemos manter a greve até que o governo ofereça uma proposta que não exclua os aposentados, que são sempre os mais arrochados. Esses trabalhadores já deram a vida pela universidade e não podem ser abandonados. Manter o movimento não é fazer jogo da direita. Quem está fazendo esse jogo é o presidente que, inclusive, usa os mesmos argumentos para criticar a greve, alegando que a sociedade é prejudicada.
O nosso movimento é justo, não é um jogo de tudo ou nada. É uma luta renhida para garantir uma vida melhor. Afinal, se houve dinheiro para outras categorias, deve haver também para os TAEs.
A GREVE CONTINUA, LULA A CULPA É SUA!
E SEM REAJUSTE NÃO TEM MATRÍCULA!