Apenas uma tese foi apresentada para debate no IX Consintufsc. O texto e as propostas serão apresentados na plenária desta quarta-feira, dia 20 de abril, no período da manhã.
No período da tarde acontece a Assembléia Estatutária, para discussão de propostas e mudanças do estatuto.
Nesta Assembléia participam não apenas Delegados do Consintufsc mas qualquer trabalhador técnico-administrativo da UFSC.
Confira o texto completo da tese:
Tese para o Congresso do Sintufsc
1. A conjuntura nacional tem se mostrado completamente desfavorável aos trabalhadores. Apesar de todos os anúncios de crise nos Estados Unidos e quebras nas bolsas de todo o mundo, ao que parece o país está protegido por uma bolha de otimismo e confiança na condução de Luis Inácio. Isso se expressa nos altos índices de aprovação do governo que seguidamente são divulgados. Nesse sentido, fortalecido pela popularidade junto a camada mais empobrecida, Luis Inácio estará se lixando para as reivindicações dos trabalhadores públicos, tanto é que decidiu por conta própria acabar com o estepe constante na tabela, descumprindo o acordo feito durante a última greve. Por outro lado também temos uma camada de trabalhadores que está muito satisfeita com os últimos ganhos da tabela (TNS) e com os 50 reais do Plano de Saúde, o que enfraquece um pouco as tentativas de organização de lutas.
2. O Congresso Nacional desde há muito voltou às costas para aquilo que é interesse dos trabalhadores no serviço público. Tanto que todas as tentativas de conquistar aliados naquela casa quando da discussão da tabela não deu em nada. Apenas um ou outro deputado tem feito o trabalho solitário, sem conseguir aglutinar muita força. Toda a discussão referente ao processo de “fundacionalização” do serviço público não teve eco por lá.
3. A Central Única dos Trabalhadores segue absolutamente descolada dos interesses dos trabalhadores públicos e, apesar de a Fasubra seguir filiada à Central, não se percebe nenhum movimento desta entidade no sentido de potencializar as lutas. Basta lembrar qual foi a posição da Central durante a reforma da previdência e seu interesse em implementar os fundos de pensão. Não bastasse tudo isso ainda deu guarida ao processo de divisão dentro do ANDES, apoiando a criação do PROIFES, entidade completamente ligada aos interesses governamentais.
4. No que diz respeito a esse fato, o jornalista Bernardo Kucinski divulgou há pouco tempo: “ no país, 36% do patrimônio de R$ 460 bilhões dos fundos de pensão estão aplicados em bolsa, segundo o Conselho de Gestão da Previdência Complementar. Isso, sem contar os fundos de geração de benefícios livres, os VGBL, geridos pelos bancos comerciais com incentivo fiscal, alguns dos quais aplicam parte de seus recursos em ações. Com as enormes perdas deste ano, “só um milagre permitiria aos fundos de pensão cumprir suas metas atuariais este ano”, avalia o diretor de investimentos da Previ, Fábio Mozar. As perdas totais dos 350 fundos de pensão complementar superaram até outubro os R$ 40 bilhões. Salvou-nos de um desastre maior, a demora do governo em autorizar os fundos a aplicar no exterior. Entre as mais afetadas está a Previ que aplicou 65% do seu patrimônio em renda variável. Seu patrimônio encolheu de R$ 140 bilhões de reais em maio para R$ 125 bilhões em setembro”. Pois agora? Quando as pessoas despertarem será tarde demais!
5. Dizem os jornais que o emprego nunca esteve tão em alta. Cresceu no governo Lula. Mas, os mesmos jornais não falam daqueles outros que nunca em sua vida conseguirão qualquer tipo de emprego. Os prescindidos, os que são totalmente dispensáveis pelo mercado, estes não aparecem nas estatísticas. Mas eles estão aí, nas ruas, nas praças, nas cadeias. São o “perigo” em potencial. É sobre eles que Viviane Forrester fala quando discute o horror econômico. O capitalismo vai criando um desemprego estrutural e não tem como oferecer alguma saída para estas pessoas que estão completamente fora das possibilidades de se integrarem ao sistema.
6. Do ponto de vista internacional temos sido obrigados a engolir um espetáculo grotesco da mídia brasileira, que só faltou bramir bandeirinhas estadunidenses, durante a eleição de Barak Obama, como se ele não fosse só mais um presidente democrata, com a mesma velha política dos democratas tão desagregadora e sanguinária quanto a dos republicanos. A diferença é que governos como os de Carter e Clinton, só para ficar nos mais contemporâneos, foram um pouco mais sutilmente perversos nas suas políticas de agressão, invasão e desrespeitos à soberania dos povos. Nada de bom se pode esperar de Obama, pelo menos não para nós na América Latina.
7. Já com relação aos ventos de mudança que sopram em países como a Venezuela, Bolívia, Paraguai e Equador, muito pouco se tem notícia. Não há Willliam Bonner babando histericamente, nem Celso Freitas falando de “exemplos de democracia”, como se viu nas reportagens produzidas pela Globo e Record durante a eleição de Obama. Os presidentes dos países vizinhos que estão promovendo mudanças significativas na vida das gentes, empurrados pelas gentes nas ruas, não são sequer pauta destes senhores da mídia. Mas, apesar disso, têm impulsionado grandes transformações que, sem serem conhecidas pela maioria do povo trabalhador brasileiro, não incitam propostas de mudanças por aqui.
8. O que se vê é um pequeno grupo de sindicalistas e lideranças do movimento social tentando, minimamente, colocar suas questões sem encontrar eco na maioria da população. É um tempo de sombras e de capitulação. Mas, há quem resista e aposte num processo de lutas que venha aglutinar outra vez os trabalhadores. Daí a necessidade de aproveitar esse tempo de sombras para estudar e se preparar para o futuro.
9. Na cidade de Florianópolis iniciou-se um movimento contra as privatizações ancorado na luta dos trabalhadores do Cepon e do Hemosc, ampliando também para os trabalhadores do Hospital Florianópolis. Os dois primeiros já entregues à Fundações Privadas e o último sob risco de privatização. Isso mobilizou e juntou sindicalistas e movimento social na recuperação do MUCAP (Movimento contra a Privatização). Na senda desta luta o Sintufsc incorporou a defesa do HU 100%, mas de forma completamente solitária. Raros são os trabalhadores do Hospital nesta empreitada.
10. Na UFSC, o que impera é a apatia. Depois das últimas mexidas do governo no salário de alguns, principalmente dando ganhos ao nível superior, houve um apaziguamento das tensões. As pessoas votaram no Prata e estão aceitando de forma passiva as propostas que vêm da administração. Praticamente ninguém se incomodou com o fato de ele ter assumido a UFSC considerando-se “o representante do governo federal” e não o representante da comunidade que o respaldou com 60% dos votos, fato reiterado por diversas vezes por ele mesmo durante as conversas com o sindicato. Tudo é recebido sem críticas e mesmo o sindicato sequer tem encontrado forças para denunciar o imobilismo desta administração. No meio disso tudo ainda temos de enfrentar parte da categoria que acredita que o sindicato sozinho deva dar conta de tudo, enquanto outros buscaram se afastar por completa desesperança. A questão da FEESC, que em outros tempos colocou para ferver a vida na UFSC, se desmilinguiu sem deixar rastros. Tudo parece em paz.
11. É neste contexto que o sindicato faz o seu congresso buscando pensar estes tempos de horror econômico. Difícil tema este que centra seu foco nos prescindidos, ou seja, naqueles que estão fora da perspectiva até de ser explorado. Digo difícil porque nos últimos tempos temos notado um expressivo aumento do reacionarismo da categoria, mesmo entre os que estão na luta. Já vivenciamos situações em que membros de outros movimentos foram expulsos dos ônibus que iam à Brasília, gente defendendo contra a integração e o financiamento dos estudantes nas lutas gerais, e a negativa de carregar no mesmo ônibus colegas de outras categorias. Neste cenário como avançar para a luta solidária com os prescindidos da história? Este certamente será o grande desafio deste congresso.
12. Em toda a América Latina a falência do movimento sindical – incapaz até de dar conta das suas lutas intestinas – levou ao aparecimento de movimentos sociais muito coesos. Gente que, pontualmente se unia para resolver questões cruciais como a defesa da água na Bolívia, a derrubada de um presidente no Equador, a defesa do gás também na Bolívia e dos recursos naturais em Honduras e na Nicarágua. Estes movimentos, nos momentos certos, conseguiram unir variadas tendências e chegaram a vitórias importantes como as que a gente presencia hoje em Bolívia ou Equador, culminando, inclusive, com a escritura de uma nova Constituição.
13. Estes fatos nos países vizinhos não servem para serem imitados, mas podem funcionar como pistas para nós. As gentes que fizeram acontecer as mudanças eram, em grande parte, os prescindidos. E, na rota das mudanças eles foram incorporados pelos camponeses, pelos trabalhadores, como agentes importantes nas batalhas cotidianas. Acabaram sendo protagonistas desta história de vitórias populares. E nós? Conseguiremos abrir nossas mentes de classe média e pensar nos que estão à margem?
