A coordenação do SINTUFSC cancelou a reunião marcada para o inicio da tarde desta segunda-feira (2/10) em função da morte do reitor da UFSC, professor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, registrada no final desta manhã num shopping center no Centro da Capital.
Os diretores presentes lamentaram o final trágico da denúncia contra o reitor, envolvido na Operação Ouvidos Moucos e conduzido preso pela Polícia Federal no mês de setembro, sendo mantido afastado de suas funções por decisão judicial mesmo após sua soltura. A coordenação emitiu uma nota de pesar aos familiares e à comunidade da UFSC (leia mais abaixo).
A Administração Central comunicou que as homenagens ao reitor iniciam no final da tarde com o velório no hall da Reitoria, seguido de vigília e sessão solene fúnebre do Conselho Universitário (CUn) às 11 da manhã de terça (3) no auditório Garapuvu, do Centro de Cultura e Eventos da UFSC. Às 16 horas está previsto um culto ecumênico, seguido do sepultamento no Cemitério Jardim da Paz, na Capital.
Confira a seguir a íntegra da nota da direção do SINTUFSC:
“NOTA DE PESAR E SOLIDARIEDADE
A direção do SINTUFSC recebeu consternada, nesta manhã, dois de outubro, a notícia do falecimento do Reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo.
A direção do sindicato, em nome da categoria dos servidores Técnico-administrativos em Educação, externa seu mais profundo pesar e solidariza-se aos familiares, amigos e à comunidade universitária.
Neste momento de dor, o SINTUFSC soma-se aos muitos setores da sociedade organizada, lideranças políticas, colegas servidores públicos e estudantes, que há muito tempo têm denunciado o Estado policialesco instalado no País nos últimos anos, com a participação de setores do Judiciário e a repercussão desmedida da grande mídia do País.
A morte de Cancellier acontece como desfecho aos muitos ataques aos direitos individuais e coletivos, direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras, como o direito ao envelhecimento saudável, à aposentadoria, ao trabalho, à mobilidade, à saúde e à educação, entre tantos, mas principalmente ao principio fundamental da presunção da inocência.
O Estado policialesco vem se manifestando em vários setores da sociedade, mas, só para constar, aqui no Estado de Santa Catarina temos o caso do chamado “Levante do Bosque’, ocorrido em março de 2014, quando uma “operação” da Polícia Federal e Polícia Militar mobilizou dezenas de policiais em uma ação desproporcional com o motivo alegado. Esta “operação” tentou criminalizar mais de trinta estudantes da UFSC e cinco servidores (quatro professores e um técnico-administrativo), e, como se não bastasse, estes servidores estão sendo processados por improbidade administrativa pelo Ministério Público Federal.
Na esteira dos desmandos do Estado moralizante e policialesco, temos o caso do Instituto Federal Catarinense (IFC) de Abelardo Luz, que, em ação da Justiça Federal, através da 1ª Vara Federal de Chapecó, determinou em 16 de agosto de 2017 o afastamento dos diretores do IFC de Abelardo Luz, Oeste de Santa Catarina, onde celulares e computadores pessoais dos dirigentes do IFC foram confiscados e foi pedida, pelo MPF, a quebra de sigilo de e-mails dos trabalhadores.
Em catorze de setembro de 2017, tivemos mais uma demonstração deste Estado de exceção, e, de novo, entre as cercas da Universidade Federal de Santa Catarina, na “Operação Ouvidos Moucos”, deflagrada pela Polícia Federal, com o apoio da Corregedoria da UFSC, Controladoria Geral da União e Tribunal de Contas da União. O meios de comunicação traziam a notícia em letras garrafais que “reitor da UFSC é preso em operação da PF que investiga desvio de recursos”. Ainda de acordo com as notícias veiculadas na grande imprensa foram mobilizados em torno de 100 policiais federais.
Cancellier foi acusado de obstrução à Justiça, mas, segundo seu próprio depoimento a um jornal: “Não adotamos qualquer atitude para obstruir apuração da denúncia”, dizendo também que “A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição.”
Até quando faremos notas de pesares e solidariedade às famílias e amigos vítimas deste Estado policialesco e opressor?
O que está faltando para enfrentarmos juntos os desmandos do ranço autoritário que voltou a se manifestar através autoridades públicas do País?
Quantos outros Cancelliers serão necessários para dizermos não a este Estado de perseguição e desmonte dos serviços públicos?
Na defesa da universidade pública, gratuita e socialmente referenciada,
COORDENAÇÃO DO SINTUFSC“
